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domingo

Minha amiga e minha cor

Faz duas semanas limparam meu quintal.
Colhemos um quilo de abóbora de cabaça e um quilo de batata doce branca.
Dei a batata - presente de Oxalá que eu nem esperava - e fiquei com a abóbora que matou minha fome por dias.
Tenho uma fome de herança. Minha bisavó pulsa no meu sangue, com seu rosto ímpar e seu cabelo sedoso, preto lustroso igualzinho ela se mostrou na memória de minha vó e eu vi.
Meu vô preto era só silêncio e balas que eu roubava do bolso do seu paletó quando parou de fumar. O primeiro velório que presenciei, arrebata minha presença daqui prali.
Minha amiga se foi faz sete dias e só hoje desata esse nó do meu peito, esse choro que ficou suspenso. Esse luto, fonte de água salgada.
Não sei o que fazer de mim, nem da minha cor.

Um comentário:

Miriam disse...

Gratidão sempre